Ainda é uma enorme dúvida para muitos MTBikers: vale a pena ou não migrar para 1×10?
Eu sempre gosto de dar minha opinião, mostrando o lado bom, ruim, prático, não-prático e todos os outros prós e contras que existirem. Mas também sei que sempre haverá aquela pontinha de vontade de experimentar, mesmo que seja só para matar a curiosidade.
Sempre me perguntaram sobre relação 1×10, e eu sempre dizia: não sei dizer com certeza como é, pois nunca testei. Mas tenho algumas idéias de como deve ser. É que eu apenas já fiz as continhas para ter noção. Leia esta publicação para saber do que se trata.
Então, vamos lá…
Recebi um kit do Adriano Durão, proprietário da Durão Bikes e a missão era simples: usar, testar, analisar e escrever uma matéria técnica explicando tudo sobre as montagens 1×10.
Na caixinha, veio um cog de 42 e uma coroa 32 da marca Wolf Tooth, e um kit de cog 9-11 da Doval. Antes de montar na bike, quando mostrava os componentes para alguns amigos, a admiração era sempre em dois extremos.
Para o cog 42 dentes, diziam: Caráca, como é enorme! E para os 9-11 era: Caráca, que minúsculo!
Além da dúvida de como era instalado um cog tão pequeno em um freehub padrão, uma outras questões eram: Será que aguenta? A corrente não vai pular? Não vai esbarrar no quadro?
Minha resposta era: Em breve descobrirei! 🙂
A coroa Wolf Tooth 32 dentes
Ao contrário de outras marcas fabricantes, que apenas copiaram o padrão da SRAM, a Wooth Tooth tem seu próprio padrão. E na minha humilde opinião, dá a impressão que funciona tão bem ou melhor que muitas opções do mercado. Nós olhamos para o padrão dos dentes, e imaginamos como ele casa com os espaços da corrente, e já começamos a ter uma boa impressão sobre o produto.
As coroas Wolf Tooth são muito leves. A de 30 dentes pesa 36 gramas, a de 32 dentes pesa 40 gramas e a de 34 dentes 45 gramas.
Utilizei um pedivela Shimano Deore M615 (duplo), o mesmo que já estava em minha bike. Removi a coroa menor, e a coroa Wolf Tooth instalei no lugar da original de 38 dentes.
Na hora que alinhei a coroa nos buracos dos parafusos, já percebi um problema: a corrente iria apoiar nas hastes que seguram a coroa. Mas este detalhe, acredito eu, acontece apenas no pedivela Deore e talvez no SLX, ambos duplos.
Por 3 segundos pensei: putz.. ferrou!
Mas no 4º segundo eu já tinha decido: ahhhh… não vai fazer diferença.. vamos moer!!! 😀
Realmente não fez diferença alguma, as marquinhas que a corrente deixou no pedivela não são maiores que outras de uso normal.
Reparem na pequena marquinha que a corrente deixou no pedivela, parece apenas um arranhão.
A montagem do pedivela no quadro
Uma das preocupações que eu tinha, era o chainline que essa coroa precisaria ter para funcionar como foi projetada para ser.
Em poucas palavras, chainline é a linha referencial entre o centro das coroas do pedivela com o centro do cassete.
Com um chainline errado, a corrente trabalhará muito desalinhada, gerando ruídos, um funcionamento pobre e desgaste prematuro do sistema.
Para os pedivelas de 3 coroas, o chainline parte do centro da coroa do meio. Este então, seria a melhor opção para se instalar coroa única, além do pedivela próprio para essa montagem.
Mas, o meu pedivela é duplo, e eu teria que resolver essa “paradinha”.
Alguns segundos pensando e verificando o alinhamento olhando pela parte de trás do cassete, e única solução é deslocar o pedivela para a esqueda trocando os espaçadores do movimento central.
Para quadros com o movimento central de 68mm de largura, nos pedivelas Shimano, é indicado utilizar 2 espaçadores (que acompanham o movimento central da marca) no lado direito, e um no lado esquerdo. Caso você utilize um guia de corrente ou apoio de câmbio padrão mount-type, usa-se então apenas um espaçador de cada lado. Já para quadros com movimento central de 72mm de largura, usa-se apenas um espaçador do lado direito, ou nenhum caso se use um guia de corrente ou a placa de apoio para câmbio padrão mount-type.
O Movimento Central
No caso da montagem da coroa Wolf Tooth no pedivela duplo, eu tinha então que resolver o chainline movimentando os espaçadores. Mesmo montando com apenas um espaçador no lado do pedivela (direito) e dois no lado oposto, o chainline ainda não estava perfeito.
Precisava deslocar o pedivela ainda mais para dentro. Não tive escolha e eliminei um espaçador. Ficou sem nenhum espaçador no lado do pedivela, e dois no lado oposto. O chainline ficou bom, mas solucionei um problema, e criei um outro: agora minha “pedalada” estava deslocada para a esqueda.
Para você entender, imagine-se sentado em sua bike na posição de pilotagem. Olhe para baixo e visualize seus pés com sapatilhas e clipados nos pedais. Ok, agora desloque seus pés alguns milímetros para a esquerda. Fazendo isso, seu pé direito estará pedalando mais próximo do quadro, e o esquerdo mais longe. Isso não é nem um pouco bacana.
Mais alguns segundos tentando resolver este problema mentalmente e… PUFT! Já sei! Espaçadores de pedais!
A idéia era tentar neutralizar um pouco esse deslocamente, trazendo meu pedal direito um pouco mais para fora, ou mais longe em relação ao quadro. Vasculhei as caixinhas de bugigangas que vou guardando e achei dois espaçadores que são colocados no eixo do pedal antes de fixá-lo ao pedivela. Coloquei os dois no eixo e instalei o pedal novamente.
Bom, pedivela instalado e todos os problemas praticamente resolvidos.
O cog Wolf Tooth de 42 dentes
A contrução e o acabamento do cog 42 dentes da Wolf Tooth são impressionantes! Percebe-se claramente que a tecnologia e o maquinários utilizado são de altíssima qualidade. Confesso que até fiquei com dó de usar o cog depois que tinha montado ele na roda traseira da bike. Mas, o trabalho tinha que ser feito… 🙂
Há modelos para cassetes Shimano e SRAM, é preciso ter o modelo correto, pois há pequenas diferenças entre um modelo de cog e outro, e essas diferenças são decisivas para o perfeito funcionamento do sistema na hora que você engatar a corrente no cog da Wolf Tooth.
A fábrica, e também o Adriano Durão indicam montar o cog gigante com cassete Shimano XT ou XTR, ou se for SRAM, os modelos PG 1030, PG 1050, e PG 1070, tanto faz se forem 11-36 ou 12-36. Ou então o XO 11-36.
É indicado remover o cog de 17 dentes (você precisa eliminar 1 cog, para conseguir espaço para instalar o novo de 42 dentes). Masssssssss… Desde o início, já sabia que eu teria problemas nesta parte. Não pela montagem, mas pela falta que eu sabia que o cog 17 me faria. Alguns eliminam o cog 15, mas você está apenas mudando o problema de posição, ele ainda estará lá. Explicarei melhor mais adiante.
Mas, no caso da Shimano, porque apenas o XT e o XTR? Simples: pelo fato que os cogs 15 e 17 são separados dos outros, e não possuem as saliências de integração que os cogs menores precisam ter para um encaixar nos outros. Mas, isso não foi e nunca será problema. Eu utilizei um cassete Shimano HG400 10v 11-36 na montagem. Todos os cogs do HG400 são rebitados, e para desmontá-lo, basta que voce encoste a “cabecinha” do rebite da parte traseira do cassete em um moto-esmeril. Basta desbastar um pouquinho todos os 3 rebites, e o cassete inteiro desmontará.
O kit de cogs 9-11 da Doval
O kit de cogs 9-11 da Doval parece ser muito complicado quando olhamos para ele pela primeira vez. Mas no depois, percebe-se que é um sistema simples.
Ele consiste em alguns espaçadores de cassete(1, 2, 3), um adaptador (3) que é o responsável por fixar o cog 9-11 (4) no freehub, um anel-trava (5), e os espaçadores de eixo (6). Há também um chave combinada, onde um lado parece muito com a chave de instalar movimento central, e do outro um tipo de gancho, utilizado para apertar ou soltar o adaptador (3).
O kit todo, acomodado em um saquinho plástico transparente, gerava cada “cara de paisagem” em meus amigos que eu devia ter fotografado para depois postar aqui na matéria. É muito engraçado como eles olhavam esse amontoado de pecinhas sem entender como era possível instalar um cog de 9 dentes em um freehub normal.
O cog de 9 dentes é fixo no de 11 dentes. Na verdade, são uma peça só, são usinados assim. O de 9 dentes não é encaixado naquelas ranhuras do freehub, ele fica além do freehub. Sim, fica literalmente fora do freehub. Então, quando usa-se o cog de 9 dentes, na verdade estamos usando o de 11. O torque da pedalada é passada do 9 para o 11 dentes.
A Instalação do kit Doval
É um monte de pecinhas, mas no fim a montagem é bastante simples.
Primeiramente, instalamos o adaptador (pecinha #3 da figura acima) no freehub do cubo. Este adaptadoré preso na mesma rosca usada pela tampinha do cassete, e ele fará o papel de prolongador do freehub. Veja a imagem abaixo:
Com a mão você já consegue rosquear o adaptador no freehub, e também já pode aproveitar e deixar o anel espaçador (#1 e #2 na figura anterior) no lugar dele.
Esse anel é necessário e indispensável, pois na verdade estamos colocando o último cog (de 9 dentes) fora do freehub. Então, todo o cassete será um pouco deslocado para fora. Se não for colocado o espaçador antes do cassete, quando terminarmos a instalação do kit, o cassete ficará solto no freehub, escorregando para dentro e para fora, enquanto o kit doval estará preso na ponta do freehub.
Para terminar a instalação do adaptador, usa-se a chavinha combinada que acompanha o kit:
Não é preciso apertar com muita força, apenas um “confere” no aperto já basta. Feito isso, o adaptador já estará pronto para receber o cog Doval de 9-11 dentes.
A relação escolhida
Dentre aquelas 7 velocidades que estão entre o cog 42 da Wolf Tooth e o 9/11 dentes da Doval, tinha que escolher os 7 cogs que entrariam no meio para formar o cassete de 10v (1+7+2).
Opção #1
Acima, a opção #1 de montagem: 09-11-16-19-21-24-28-32-36-42
A Wolf Tooth indica retirar o cog 15 ou 17 para realizar a montagem do cassete. Mas dizem isso simplesmente porquê esses dois cogs vêm soltos (nos cassetes XT). Mas como eu queria testar outras variações, desmontei completamente o cassete HG50 de 10v que reservei para este teste, e assim eu poderia fazer várias montagens e descobrir qual seria a mais interessante.
A primeira opção (acima #1), removi justamente o 15 e o 17, mas inseri um cog de 16 dentes no lugar deles. Então, não seria nem um, nem outro. Seria o intervalo entre eles.
Reparem o grande “buraco” que ficou entre o 11 e o 16, são 5 dentes de diferença. Esta diferença é muito, mas muuuuito grande. Nas penas, durante a pedalada, seria péssima e gritante a diferença na cadência. Opção descartada!
Opção #2
Acima, a opção #2: 09-11-15-17-21-24-28-32-36-42
Já nesta segunda opção, retirei o cog 16 e voltei os dois que sairam: o 15 e o 17.
Optei por retirar o 19 nesta montagem, e repare que ficou mais homogênea a escala. Apenas entre o 11 e o 15 e depois entre o 17 e o 21 há “buracos” de 4 dentes. Pelo menos já resolvi o problema dos 5 dentes de diferença da montagem anterior. Mas, mesmo assim, ainda não está legal.
Opção #3:
Acima, a opção #3: 09-11-13-16-19-21-28-32-36-42
Agora sim, ficou bem melhor!
Mas você poderá dizer: Epa.. Olha só.. Do 21 par ao 28 são 7 dentes de diferença! Você tinha dito que 5 dentes já era muita coisa. E agora tem 7!
Eu explico. 😉
Se repararmos em um cassete original de 10v, como o HG50 10v, a relação é: 11-13-15-17-19-21-24-28-32-36. Repare que do 11 até o 21, a diferença é apenas 2 dentes. Isso se faz necessário nas marchas de maior velocidade, quando a diferença entre os cogs precisam ser poucas para não acabar com sua cadência durante um trecho rápido e plano, por exemplo.
Então, o que eu busquei fazer, foi montar uma relação de marcha que você relativamente confortável e que funcionasse bem nos trechos rápidos onde a cadência não podia receber uma quebra abrupta, e sem comprometer as marchas mais leves usadas em trechos lentos ou de subidas. É como se eu separasse o cassete em duas partes.
O ruim disso é que existe um “buraco” nas marchas, porém, de menor efeito porquê já está praticamente dentro da porção de marchas usadas em subidas e que não fará tanta diferença durante a troca.
Para finalizar, você apenas precisa prender tudo com o anel trava usando a ferramentinha que vem com o kit Doval 9-11.
E antes de colocar a roda de volta no quadro, escolha o anel espaçador que fique melhor com o seu quadro. Há vários, de diversas medidas. Basta escolher um que não deixe a corrente raspar no quadro quando estiver no cog 9 dentes.
Minhas impressões de pedalar com o sistema 9-42×32
Já começo dizendo que gostei, e gostei muito. Pedalar com um sistema 1×10 torna todo o trabalho de cambiar marchas mais prático, bem mais prático.
Você tem apenas 2 botões, um que sobe e outro que desce marchar, e só.
Não importa o seu grau de esperteza, destreza ou experiência, vez ou outra você olha para sua relação de marcha 2×10 e principalmente 3×10 para certificar-se que está fazendo a coisa certa. Sempre existirá uma dúvida e você dará uma espiada em que marcha está.
Mesmo que utilize trocadores de marchas com visores numerados, você abaixa a cabeça para olhar as marchas e aposto que nunca olhou para esses visores. Ninguém olha! Na minha opinião, é impossível olhar para aquilo e fazer uma leitura enquanto se pedala. É inútil e deveria ser abolidos! 😀
Utilizar sistema 1×10 possibilita que você dedique sua atenção para o que importa: a trilha.
Você coloca seu foco na trilha, na estrada, no single track, na gatinha do lado, mas não nas marchas. Apenas use, sem se importar com o sistema. Apenas troque para a mais leve quando precisar, ou para as mais pesadas quando chegar uma descida. Apenas aperte botões, só isso.
Nos 637km que pedalei utilizando os componentes Wolf Tooth e Doval, em nenhum momento tive problemas com as marchas. Se o câmbio estava perfeitamente ajustado, tudo funcionava bem.
Em nenhum momento a corrente saiu da coroa, nem mesmo deu sinais que sairia.
Eu deixava a bike socar em costeletas, valetas, pedras, e quando precisava pedalar, estava tudo em seu lugar e pronto para ser usado. Confesso que no começo quando passava por situações como essas, eu dava uma olhadinha sim, para me certificar que a corrente estava lá ainda. Mas depois de algumas pedaladas, eu esqueci que tinha um sistema ali, e apenas pedalava e trocava de marchas.
Sobre o sistema 1×10, cito duas características
- Sistemas 1×10 não são para iniciantes: Digo isso pois iniciantes ainda não sabem utilizar corretamente as marchas.Precisam aprender sobre cadência e como tudo funciona em torno dela. Conhecer e descobrir o que acontece com suas pernas quando se pedala fora da sua cadência ideal é um fator importantíssimo para se utilizar o sistema 1×10. Acredito que seja assim, pois como temos apenas 10 marchas, e não 20 ou 30, a diferença entre uma marcha e outra é maior, e tendo a sabedoria de como trabalhar dentro da sua cadência ideal, possibilitará você saber se realmente está na hora de subir ou descer marchas no sistema 1×10.
- Sistemas 1×10 obrigado você a se educar na pedalada: Ainda dentro do item anterior, a cadência é treinada “na marra” em sistemas 1×10. Quando estamos em uma reta, por exemplo, plana e rápida, estamos girando e essa cadência pode se tornar alta ou baixa demais. Então, enquanto pedalamos e estamos executando uma fuga ou perseguição em uma competição, temos que saber até onde podemos variar a cadência antes de finalmente termos que trocar de marcha. Ou você começa a dominar isos, ou vai afogar e sobrar. Sabendo o momento de trocar de marcha baseando-se nos limites da nossa cadência, poderemos trocar de marchas sem bater de frente com o velho problema do “putz! ficou pesado demais” ou do “putz! tão leve que sai de giro”. Então, troca-se de marcha quando o limite de giro chega no vermelho. É como um motor de carro de corrida, aproveitando toda sua curva da relação torque x potência.
Comparando as relações de marchas
Comparando-se com uma relação 2×10, sendo pedivela 38×24 e cassete 10v 11-36, teremos:
- Utilizar coroa 32 com o cog 42, é o mesmo que utilizarmos coroa 24 com cog 36.
- E utilizar a coroa 32 com o cog de 9 dentes, é como utilizar coroa 38 com o cog 11 do cassete.
Então, não senti falta de marchas, nem na mais leve, nem na mais pesada. Lembro-me de ter usado o cog 9v poucas vezes. Pois durante a velocidade que se consegue pedalando em 32×9 em uma descida, é melhor parar de pedalar e dar atenção aos detalhes da estrada.
Trocava de marchas na subida sem aliviar a pedalada, engatava o 42, e o engate é preciso e sem barulhos. Apenas o click do trocador, e o click da corrente engatando. Muito, muito bom!
Remontei minha bike de testes com sistema 1×10 após o teste com o microSHIFT XCD 2×10 e confesso que estava sentindo um pouco de saudade da coroa única.
O sistema 1×10 está sendo meu favorito por enquanto. Logicamente poderei mudar de idéia caso experimente algo diferente, uma nova opção de relação de marcha, por exemplo. Mas hoje, tenho preferência pelo 1×10.
Pode ser que você também goste bastante a partir do momento que experimentar.
Ficou interessado? Acesso www.duraobikes.com.br e verifique as opções em componentes. O site foi todo reformulado e está incrível!
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Um abração, e até a próxima!
Fabio S.