Em um treino ou em uma competição, você literalmente molha a camisa de tanto suor que sua pele transpira. Essa é uma tática para o corpo auto-resfriar. Mas, depois do treino ou da prova, depois que já tomou seu banho, se alimentou e relaxou no sofá, aquela sensação de febre ou calor aparece. O que seria isso?

Os pesquisadores costumavam dizer que é uma espécie de “bonus” do organismo sobre a atividade física. Você estaria passando por um processo pelo qual o organismo continua a queimar calorias durante as próximas horas pós-treino. E tem mais: poderia também durar o resto do dia!

Mito ou verdade?

Então, outro grupo de pesquisadores disse que tudo era mito, não era bem essa a razão desta sensação térmica.

Nisha Charkoudian, professora de fisiologia da Faculdade de Medicina da Clínica Mayo, Minnesota, disse:

“Uma coisa nós temos certeza: o seu metabolismo vai às alturas quando você está no meio de um exercício físico. Mas depois que você suspende o exercício sua temperatura corporal permanece elevada por cerca de duas horas, e não conseguimos compreender o real motivo disso.”

E este efeito depende da intensidade do exercício. Se você sair para apenas caminhar, sua temperatura não subirá muito, explica a professora.

Aprofundando os estudos

Intrigado com esse fenômeno, Glenn Kenny, professor da Escola de Cinética Humana, ligada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Ottawa construiu uma máquina ao custo de US$ 1 milhão – e única no mundo segundo ele – capaz de mensurar minuto a minuto as mudanças na perda de calor do corpo, durante e depois do exercício.

Kenny descobriu a razão para o estado febril que surge quando a temperatura do corpo se eleva: não é porque você continua queimando calorias no mesmo ritmo que durante o exercício, mas porque o organismo tem dificuldade para se livrar do calor extra que foi gerado.

A dissipação do calor cai bastante depois do exercício; por alguma razão, o corpo aparentemente não consegue se livrar do calor extra que foi adquirido.

Kenny acha que o efeito está ligado ao impacto do exercício sobre o sistema cardiovascular. Mas, mesmo que você se sinta quente, não está queimando mais calorias, diz ele. E portanto, não está perdendo mais peso.

Com base em outros estudos em que ele mensurou os ritmos metabólicos, ele refuta a ideia de que o exercício poderia aumentar também o ritmo em que as pessoas queimam calorias durante as horas seguintes.

Concluiu que qualquer efeito sobre o metabolismo após o exercício era muito pequeno e não duraria mais do que cinco minutos.

Só que as pessoas examinadas no estudo não eram atletas, por exemplo.

E como seria o experimento em atletas experientes?

Esse foi o estudo de LaForgia, fisiologista do exercício da Universidade do Sul da Austrália. Foi constatado que pessoas que se exercitam intensamente – dando repetidos piques de corrida, por exemplo – podem experimentar um efeito metabólico prolongado.

Sua taxa metabólica pode subir e continuar elevada por até sete horas depois do fim do treino.

Mesmo assim, as calorias queimadas eram cerca de 10% das calorias queimadas durante um exercício intenso.

Quanto às pessoas que se exercitam moderadamente, o pequeno aumento do metabolismo durava não mais do que duas horas e representava apenas cerca de 5% do total queimado durante a atividade.

E, como um treino modesto não chega nem perto de um intenso em termos de calorias queimadas, pessoas que se exercitam modestamente acabavam com pouquíssimas calorias extras eliminadas posteriormente.

A grande pergunta

Mas isso ainda deixa uma questão: Se o ritmo metabólico aumenta tão ligeiramente, por que você se sente quente por até sete horas após uma atividade longa e desgastante?

LaForgia diz que não estudou as sensações de calor. E Kenny diz que, se alguém se sente quente por tanto tempo, isso não é efeito da dissipação retardada de calor.

A sensação pode ser causada por outro efeito do exercício – o esforço do organismo para reparar os sutis danos que todo exercício causa aos tecidos.

O sistema imunológico pode entrar em ação junto com as enzimas que restauram os músculos. E este processo exigem energia que gera calor. Nesse caso não seria queima de calorias.

Bóra pedalar e suar, pessoal!!! 😀