Taipei Cycle Show 2017 // S-RIDE 12v oferece concorrência ao SRAM Eagle?

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Na Taipei Cycle Show 2017, a maior feira da Ásia de produtos para bicicletas, vi muita coisa legal e interessante. Mas também, havia muita coisa nem tão maravilhosa assim.

Espalhadas pelas longas ruas de circulação na área dos stands, garotas entregavam catálogos de produtos para quem quisesse ter um exemplar. Peguei um de uma marca chinesa fabricante de kits de relação de marchas chamada S-RIDE.

O catálogo é muito bem diagramado e ilustrado, e a noite acessei o site e parecia tudo bastante interessante, até um grupo de 12v está no portfólio da empresa.

Aguardei o último dia da feira quando eu poderia caminhar livremente pelo evento e quis visitar o stand da marca.

O espaço era bem pequeno e até um pouco bagunçado. Cerca de 9m2 (3x3m) era a área do stand da S-RIDE. Logo na entrada, uma caixa de vidro protegia o kit de 12v da empresa. Para fora da caixa, apenas o trocador de marchas para os visitantes mexerem e verificarem o funcionamento.

De cara pensei: não é muito bonito como das fotos do catálogo. Mas vamos fuçar.

// O S-RIDE 12v

Pedi licença à educadíssima atendente da empresa e comecei a trocar as marchas no S-RIDE 12v. Enquanto eu olhava e conhecia o produto, ela me explicava que o modelo era de 12 velocidades e que era um concorrente do SRAM 12v, o Eagle. Ok, vamos verificar.

De cara percebi que existia uma grande folga na precisão da alavanca de trocas. Eu empurrava a alavanca e se soltasse depois do “click”, o câmbio voltava para a marcha anterior. Ou seja, depois do “click”, você ainda tinha que empurrar mais um pouco para o câmbio lançar a corrente ao engate do cog superior.

Trocador de marchas do sistema S-RIDE 12v

Câmbio traseiro S-Ride 12v

E não era falta de ajuste, pois tentei melhorar o ajuste pelo botão de regulagem fina do trocador e tudo só piorava, tanto ao colocar mais tensão no cabo de aço quanto deixá-lo mais solto. Retornei ao ajuste que estava.

Brinquei mais um pouco e fiquei com a impressão que se é um protótipo, precisa ser melhorado e muito! Mas o produto já se encontra no catálogo, então deve ser isso mesmo.

Câmbio traseiro S-RIDE 12v

Um exemplar do câmbio S-RIDE 12v também estava fora da caixa de vidro para que pudêssemos conhecê-lo em mãos. A falta de qualidade do material e do acabamento, e a construção extremamente simples me deixaram uma péssima impressão. Reparem que segurando o eixo da mola e dos cages há apenas um simples parafuso Allen 4mm, que parece ser em aço galvanizado.

// Outros modelos S-RIDE

A S-RIDE também fabrica modelos de 6 a 11 velocidades. Segundo a atendente, o modelo mais sofisticado de 11v, o M400, é compatível com Shimano XT em matéria de construção. O QUE? Ok… Desconsideremos o estabilizador de corrente, que não existe nem no modelo de 12v.

É possível e fácil perceber que a estrutura do câmbio é uma cópia dos SRAM mais antigos, como X5 e X7.

Mas o que me surpreendeu foi a diferença no visual dos câmbios quando visto no catálogo impresso, e ao vivo.

As partes do câmbio que são fabricadas em plástico/resina, até que passam com boa aparência na inspeção visual. Mas a parte metálica, é ridiculamente feia.

As partes em aço estampado e o corpo em alumínio se conectam à outras partes em plástico/resina. Percebam o péssimo acabamento da parte do câmbio que acomoda a mola do cage. Este visual indica um material de péssima qualidade empregado na construção do corpo do câmbio.

Mesmo o S-RIDE M400 sendo catalogado como compatível com Shimano XT, as hastes do cage estampados em aço indicam, pelo tato, a má qualidade do material. Se fosse comparar com algum produto Shimano, na minha opinião ficava na casa do TZ/TX!

A construção do câmbio dianteiro também é bem simples, praticamente um cage em aço estampado e partes em plástico/resina.

Mais algumas fotos dos produtos S-RIDE:

// Cassete S-RIDE 11v

A S-RIDE fabrica apenas os câmbios. Na verdade não deve fabricar, e sim terceiriza a fabricação. Acredito que apenas copiam desenvolvem o projeto. As partes em plástico/resina que são injetados devem vir de um fabricante, a estamparia de outro, e os alumínios injetados de outros.

O mesmo acontece com os cassetes. Olhando-os, até que o visual não é feio. A superfície do metal é bem acabada, e percebe-se uma boa precisão no corte do metal durante a estampagem dos cogs. De repente, é feito em alguma fábrica que também produz para a SunRace, que são produtos que possuem um bom custo x benefício.

Mas, na parte de trás que se vê a estrutura do cassete: a montagem é bastante simples.

O spider que prende os 3 maiores cogs é em aço, assim como todos os cogs.

Percebi uma leve diferença de qualidade do maior cog (o escuro) para os outros. E não é por causa do tratamento para ele ficar escuro. Em mãos, foi possível perceber diferença na estampagem e corte do material. Vi um acabamento ligeiramente inferior no cog escuro.

// Minha opinião sobre a S-RIDE

Aprendi que no mundo há apenas 3 fabricantes de componentes de relação de marchas: são elas a japonesa Shimano, a americana SRAM e a taiwanesa microSHIFT.
*Fora Campagnolo, que não fabrica componentes para MTB.

Digo fabricante pois estas desenvolvem “in house” suas tecnologias, estudam patentes para saberem o que podem ou não fazer e/ou fabricar, e quando terceirizam a fabricação de componentes como partes injetadas em resina ou carbono, acompanham o processo nas fabricas contratadas para manter a qualidade exigida.

Fora estas 3 fabricantes, na Taipei Cycle Show eu conheceria/descobriria alguma outra fabricante, se existisse. E não vi nada além das 3.

A S-RIDE vi que é uma cópia dos antigos SRAM, e está longe de apresentar um produto de qualidade. Imagine bater o SRAM Eagle! 😀

A BOX, que mostrei aqui na BikeUP nesta publicação, também desenvolveu seu kit junto a algum fabricante. Digo isso pois a primeira versão do kit BOX tinha o trocador fabricado pela microSHIFT, e a BOX não iria investir milhões de dólares em maquinário para fabricar apenas um câmbio e um trocador.

Enfim, assim como estes kits de marchas que invadiram o mercado brasileiro, os quais um deles já até pediu os câmbios de volta porque simplesmente desmontavam durante uma pedalada, ainda tenho certeza que vale muito mais a pena investir em marcas que realmente produzem componentes de qualidade.

E quando digo que é melhor investir o dinheirinho em produtos de qualidade, não são nos kits de marchas de 450,00 que encontramos no Mercado Livre. Ou você já viu alguma bicicleta TSW vir montada com XTime? E alguma Oggi montada com Absolute?

Parece que nem as empresas que importam essas cópias de câmbios arriscam instalá-los nas bikes que vendem. 😉

Site da S-RIDE: http://www.s-ride.net/en/