Patrocinar você? Simplesmente, não.

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O mercado e a indústria de bikes é movida pela massa consumidora, é fato. Mas inovações e a imagem das empresas desse mercado são movidas pelo pilotos profisionais.

Se você fez alguns pontinhos em um competição qualquer, ganhou alguns kudos no Strava (outros chamam de “Straga treinos”) ou um KOMzinho, tudo bem, pois você apenas mais um.

Mas, se você se apoia nesses resultados locais, em provas menores ou conquistas virtuais, vamos ser honestos, verdadeiros e diretos: patrocínios sérios não são e nunca serão algo para você.

Você tem todo o direito de curtir seus resultados, e deve fazer isso, mesmo, e de coração. Você treinou duro, investiu tempo, esforço, dinheiro na bike, suplementação, treinador e etc. Tenho certeza que até a sorte esteve do seu lado por muitas vezes, não foi?

Mas você também precisa ter a visão de que os seus resultados podem (por enquanto) não serem o bastante para o esquema maior que é o esporte profissional. Você pede como patrocínio uma bike nova, um grupo novo, ou até um capacete “top” do último modelo ultra-sônico-aerodinâmico, mas talvez devesse começar ganhando um suco de frutas na lanchonete da esquina, para início de conversa (ou negociações).

Tudo é baseado em: ninguém te deve nada, porque você foi bem em algumas poucas provas. É assim que a maioria das empresas pensam sobre você.

O conceito de patrocínio

Patrocínio não é algo que deve vir de encontro à você apenas porque você acredita que merece. Só você sabe o quanto vem se esforçando até agora, quanto de dinheiro tem gasto para poder competir e ser competitivo, no final das contas, o buraco é mais embaixo. Aliás, em um lugar completamente diferente.

Em um conceito simplificado, patrocínio é uma simbiótica: uma empresa ajuda um piloto com o que acha justo, e em contra-partida, o piloto patrocinado deve gerar negócios ou valores adicionais à empresa. E isso o piloto não vai conseguir, apenas estampando a logotipo da empresa no uniforme. Não mesmo!

Muito de vocês, leitores, podem e devem acreditar o contrário do que escrevo, seus direitos. Mas, mais uma vez digo que, este artigo não é escrito para desmerecer as suas conquistas. Por favor entendam isso.

O que importa no final é o quanto suas conquistas são úteis para a liquidez de mercado em uma empresa. E liquidez significa converter ativos em dinheiro! O que importa são os negócios que serão gerados, e se não for isso, só se for por caridade, coisa que nenhuma empresa faz apenas por fazer, sem algum interesse que seja reversível em lucro (de todas as formas).

Piloto X Patrocinador

Para o piloto comum, o que importa é o romantismo do pódio e curtir a medalha que ganhou pro resto da vida. Para o patrocinador (quando uma empresa que patrocina o piloto visando uma ação de marketing), só quer saber dos números em retorno de mídia que podem ser revertidos em lucro.

Não significa também, que você não pode tentar um desconto de 10% em serviços e compomentes em uma loja como forma de patrocício. Mas, você deve sempre ter a visão ampliada de como tudo deve funcionar de acordo com o universo dos negócios.

Uma forma alternativa de reverter patrocínios, não importando o tamanho dele e gerar alguma vantagem para os patrocinadores, é se tornar um divulgador “boca-a-boca”. Se alguém perguntar sobre um produto que você está usando (e mesmo se não perguntar), faça a propaganda do mesmo, deixe sua mensagem, faça sua divulgação.

MASSSSSSSSSS… Muito cuidado!!!

O que mais vejo são anúncios exagerados, onde percebe-se que é algo forçado, explicitamente exagerado, falso e até ridículo. Algumas vezes percebe-se um tom de cinismo. Isso é feio, muito feio, e o efeito é inversamente proporcional ao bem que deveria gerar. Portanto, contenha-se, a regra é: policie-se.

Depois de muito procurar e conversar, caso você consiga um patrocínio, por menor que seja, seja honesto e leal.

Patrocínio pode se tornar um jogo instável. Nenhuma empresa gosta de ver seus atletas patrocinados pulando de galho em galho. Basta que outra empresa ofereça meis duzia de sachês energéticos além do que você oferece, e pronto, o atleta já te esqueceu e agora está caindo de amores pelo outro patrocinador. O atleta nem vai querer saber se você estava patrocinando ele com o que nem podia. Um pouco de honra ou “vestir a camisa” da empresa conta muito, muito mesmo!

Uso como exemplo aqui, uma atleta nacional de alto nível, que sempre publicava assim: sou “marca x” de corpo e alma!

Não dá a impressão que é uma atleta que dá o sangue e a alma pela empresa patrocinadora? Não dá a impressão que seria um acordo no estilo Tinker Juarez, no qual está há anos e mais anos com a mesma fabricante de bicicletas? Um acordo forte e leal, com raízes, onde ambos lados querem deixar gravado a parceria para serem lembrados para sempre?

Isso é fantástico de se ver, uma parceria legal, real, realmente de “corpo e alma”. Isso cria uma perspectiva além de um simples acordo de negócios, transparece quase um caso de amor platônico!

Mas, de repente, a atleta entregou seu corpo e alma para outra empresa, a qual ofereceu mais benefícios.

Veja, na verdade, não sei e nunca vou saber qual é a real história por trás disso, só estou dizendo o que eu e, talvez, milhares de entusiastas tenham também percebido. Esta é minha opinião como consumidor, como entusiasta e amante do esporte. Pode ser a sua percepção também, ou não.

Algumas dicas…

Em muitos casos, o feedback do piloto para a empresa patrocinadora é muito importante. Pode ser que seus comentários e percepções sobre os produtos utilizados tenham algum valor para a empresa melhorar ainda mais o produto. A dupla Patrocinador X Patrocinado sempre será uma via de mão dupla, só depende do tipo de acordo que firmem.

Organize seu espaço quando for em uma competição. Reserve seu espaço com uma tenda, um cordão de isolamento. Deixe sua bike e os produtos de seus patrocinadores em exposição, em evidência! Esteja sempre por perto para conversar com quem se aproximar, talvez tirar dúvidas, falar sobre os componentes. Saiba mostrar porque o produto do seu patrocinador tende a ser melhor que dos concorrentes. Seja gentil neste ponto, nunca seja o dono da razão, apenas mostre que o produto TENDE a ser melhor. Empurrar goela abaixo também não funciona, não mesmo! O visitante pode sair da sua tenda com uma má impressão sua e dos produtos do patrocinador, ou até desprezo.

Você é o outdoor de seu patrocinador

Acima de tudo, você precisa ser uma pessoa agradável. Lembre-se, você é o outdoor do seu patrocinador. Você tem a responsabilidade de representar a empresa naquele momento, e precisa fazer com dignidade e maestria.
Sabemos que a maioria das pessoas não se recorda quem foram os atletas que chegaram em 2º e 3º lugares em uma competição, mas você pode deixar sua agradável presença e a marca do seu patrocinador estampados na memória de quem esteve lá visitando o evento.

Quando possível, consiga com seus patrocinadores amostras grátis de produtos. Ofereça em sua tenda, pois é uma forma de atrair o público para perto de você. Nada de folhetinhos ou panfletos, isso é uma ação antiquada, não funciona, além de poluir tudo em sua volta. As pessoas jogaram no chão, e você sairá com fama de porquinho. Se por exemplo seu patrocinador for uma bebida energética, ofereça uma degustação do produto, e mantenha lixos próximos para que ninguém descarte os copinhos no chão.

Se o movimento estiver fraco, pegue sua bike, dê uma volta pelo local. Visite outras tendas, faça amigos, converse e troque informações sobre a prova. Circule, se faça percebível, mas sem exageros, claro.

Faça fotos, imagens, filmagens

Registre sua participação na prova, registre os visitantes em sua tenda. Novamente, sem exageros, publique as fotos nas redes sociais e agradeça aos publicamente aos patrocinadores. Coloque-os em evidência, pois é graças à eles que você está lá. Lembre-se disso.

Mais uma vez entenda, não estou desmerecendo seus créditos, estou deixando aqui pequenas dicas sobre como a reciprocidade entre os parceiros podem valer a pena. Um patrocinador que confia seus produtos em você, deve receber todos os créditos por isso.

Treine duro, sacrifique-se, participe de competições! Mas, vencendo ou não, penas não se torne um idiota arrogante e estúpido por causa disso.

Fabio S. (tradução)
Foto: Tim De Waele
Texto original: James Huang